Manuela Lira
2 min readJun 26, 2024

À Beira do Rio: reflexões de um Peixe de Mar

Sentado num banco de árvore à beira do rio, observava o fluxo das águas, onde galhos e folhas caíam e eram arrastados pela correnteza. Meu desejo profundo era trocar de lugar com aqueles fragmentos, deixar-me levar sem preocupações, sem temer o abraço gélido do afogamento.

Refletia sobre o destino trágico das folhas, que poderiam ficar presas em algum ponto obscuro, apodrecer lentamente ou, talvez, seguir com uma leveza até o fundo, onde o esquecimento as aguardava. Observava o movimento das águas, imaginando os redemoinhos traiçoeiros que sugavam os galhos e folhas para um afogamento inevitável.

Meu olhar desviado capturou a imagem de um casal sentado num banco próximo, imersos em conversas sobre rotinas e problemas, tão semelhantes aos meus. Lembrei-me de que minha própria existência me esperava, e questionei-me se, em algum momento, aqueles também cogitaram se entregar ao rio, buscando uma libertação.

Será que algum peixe desejava escapar do rio para uma escuridão desconhecida? Pensava se eles sabiam da existência de um mundo além das águas turvas. Talvez conhecessem essa realidade apenas quando eram pescados, arrancados de seu mundo, sonhando com o medo do ar que não podiam respirar. Talvez, os peixes que se aventuravam à beira do rio estivessem acostumados ao barulho e às sombras das árvores, uma realidade distinta dos peixes do mar.

"Sou um peixe do mar," refletia, "ou talvez um peixe de rio ansiando por um salto final." Meu coração, envolto em sombras, navegava entre essas águas, desejando uma correnteza que me levasse além, para um destino onde o medo e as amarras não existissem, apenas a serenidade sombria da entrega.