Manuela Lira
2 min readJul 31, 2024

De que vale a vida se estou exilada em um apartamento, onde ao menos consigo pagar o aluguel? Tomo remédios diariamente: o lítio, o diazepam. Será que realmente me estabilizam? Ou são apenas grilhões invisíveis que me mantêm presa a uma sanidade que não reconheço?

Estou exilada, não apenas em casa, mas também em minha própria mente. Nada me interessa, todos são entediantes. Os dias se arrastam, monótonos e insípidos, enquanto a noite traz consigo um véu de desespero silencioso. Não me alimento, não fumo, não bebo álcool. Estou à deriva em um oceano de apatia, onde a vida parece um sonho distante e inatingível.

E mesmo assim, eu persisto. Hoje mesmo, tomei uma xícara de café solúvel, meus comprimidos, e uma maçã. Mas acordei e já anseio pelo sono novamente, pois a realidade é difícil demais de suportar. Cada despertar é um confronto doloroso com a banalidade da existência, um lembrete cruel de que estou presa em um ciclo interminável de vazio.

Meu grito abafado ecoa pelos recantos de minha mente, dizendo: pare, saia, vá beber, vá conhecer outro vazio. E eu resisto, pensando que é apenas um momento. Mas quantas vezes revivi esse momento, transformando-me em uma pessoa triste e difícil? A cada dia que passa, sinto-me mais distante de quem eu era, perdida em um labirinto de angústia e solidão.

As paredes do meu apartamento parecem se fechar sobre mim, sufocantes e implacáveis. A solidão é minha única companheira, um espectro que sussurra nas sombras, alimentando minhas dúvidas e medos. O mundo lá fora continua girando, indiferente à minha dor, enquanto eu definho em silêncio.

Minha vida se desenrola em um teatro de sombras, onde a esperança é apenas uma memória fugaz e o futuro uma promessa vazia. O exílio que vivo não é apenas físico, mas uma prisão da alma, um estado perpétuo de alienação e desespero. Estou perdida em um nevoeiro de tristeza, onde cada dia é uma luta para encontrar um motivo para continuar, buscando um oásis que se desvanece, num ciclo interminável de melancolia.